Painel sobre a diversidade religiosa em Jacarta, na conferência da IARJ sobre a informação na Ásia
Painel sobre diversidade religiosa na conferência global da Associação Internacional de Jornalistas de Religião (IARJ) em Jacarta. Os representantes de grupos religiosos minoritários presentes neste painel pediram aos jornalistas que aprofundassem a inclusão das suas comunidades nas reportagens sobre questões religiosas.

JAKARTA, Indonésia-As informações exactas sobre as religiões minoritárias são extremamente escassas, afirmaram os jornalistas que participaram num painel da conferência mundial da Associação Internacional de Jornalistas de Religião (IARJ).

A Indonésia tem a maior população muçulmana do mundo, com mais de 200 milhões de habitantes. (No entanto, existem muitos outros grupos religiosos no vasto arquipélago da Indonésia. No recenseamento indonésio de 2010, 87% dos indonésios identificaram-se como muçulmanos (com mais de 99% sunitas, 0,5% xiitas e 0,2% ahmadis), 7% protestantes, 3% católicos, 2% hindus, 1% budistas, 0,05% confucionistas e 0,5% deram outras respostas, incluindo "outro" ou "nada".

A Reverenda Henrietta Tabita Lebang, Presidente do Comunhão das Igrejas da IndonésiaA eurodeputada portuguesa, Ana Paula de Oliveira, disse estar perplexa com o facto de a imprensa privilegiar sistematicamente os relatos e as fotografias de cristãos católicos em detrimento dos protestantes, mesmo em dias festivos como a Páscoa e o Natal, e frustrada com o facto de não serem noticiadas as actividades inter-religiosas importantes que têm lugar na Indonésia.

Na Indonésia, a cobertura das religiões minoritárias é tão problemática que muitos católicos hesitam em aparecer na imprensa. Nós, os católicos, ficaríamos mais felizes se não houvesse notícias sobre os católicos, afirmou o ativista inter-religioso Johannes Haryanto.

Muhsin Labib, representante do Ahlul Bait IndonésiaO Presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, manifestou a sua profunda preocupação com o mau tratamento dado a um milhão de muçulmanos xiitas na Indonésia, que têm sido alvo de ataques, especialmente em 2008. Referiu que a cobertura das questões xiitas é frequentemente vista através de uma lente sunita, que é preconceituosa e antipática. No pior dos casos, Labib mencionou rumores inexactos e hostis sobre as comunidades xiitas que aparecem ocasionalmente na Internet e que podem incitar ao ódio e até a ataques físicos. É necessário um jornalismo mais exato e informativo, afirmou Labib.

O mesmo acontece com os 400.000 Ahmadiyas - um movimento que surgiu no seio do Islão no final do século XIX e que continua a ser um centro de controvérsia em países predominantemente muçulmanos. Yendra Budlan, porta-voz da Jamaah Ahmadiyah Indonésia chamou a atenção para a constante deturpação da fé na imprensa.

Os grupos mais pequenos, como os Baha'is, lutam por um lugar nos meios de comunicação social, apesar de os seus representantes argumentarem que têm uma mensagem positiva e uma atitude acolhedora que devem ser consideradas boas notícias.

Por outro lado, Dewi Kanti, porta-voz dos indígenas Sunda Wiwitan indicaram que os meios de comunicação social simplesmente não se apercebiam das histórias de religião devido à origem geralmente secular e à visão do mundo dos jornalistas. Por exemplo, a expropriação das terras dos Sunda Wiwitan tem um profundo significado espiritual para eles, uma vez que está profundamente ligada à sua identidade, cultura e tradições.

A observação geral partilhada por todos os participantes no painel foi que os jornalistas perdem frequentemente as histórias reais devido à falta de conhecimento e à relutância em pedir esclarecimentos aos representantes dos grupos religiosos e em participar na verificação dos factos.

De um modo geral, os participantes no painel apelaram aos jornalistas para que se aprofundem e aprendam mais sobre os grupos sobre os quais estão a fazer reportagens.

O apelo mais forte do painelista foi para que os jornalistas se apercebam de que o facto de se centrarem nas seis fés oficialmente reconhecidas na Constituição da Indonésia (islamismo, cristianismo, hinduísmo, budismo e confucionismo) ignora a multiplicidade de outros grupos religiosos nesta nação que, em termos de massa terrestre, é o sétimo maior país do mundo.

Os membros do painel apelaram aos jornalistas para que explorassem outras religiões que raramente são apresentadas nos meios de comunicação social, incluindo a tradição de crenças javanesas conhecida como Kebatinan.

A interação diversificada e atenciosa do painel com jornalistas, principalmente da Ásia, e também com representantes da IARJ de todo o mundo, ilustrou a importância de organizar esta conferência global num dos países com maior diversidade étnica, linguística, cultural e religiosa do mundo.


Rachael Kohn é fundadora e voz de O espírito das coisas, o programa de referência da Austrália sobre o ABC Radio National (RN) para histórias aprofundadas sobre o papel da religião na sociedade, nas artes, nas relações comunitárias e na vida pessoal.

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