No nosso Journalism Spotlight, a IARJ centra a atenção global no trabalho de profissionais que interessam aos nossos membros em todo o mundo. Esta entrevista é apresentada em francês, a língua preferida pelo investigador, e com tradução para inglês.

Atsoutse Tossou, África e Religiões

Atsoutse Tossou
Entre os domínios de ação de Atsoutse Tossou contam-se a liberdade de religião e o secularismo

Atsoutse Tossou é um investigador com um interesse especial pela religião no mundo atual. Originário do Togo, na África Ocidental, Atsoutse Tossou é cofundador da África e religiões projeto. Iniciado por estudantes de várias universidades africanas, o projeto visa fornecer informações jurídicas e sociológicas sobre a religião em África.

Q:

O Togo, tal como outros países da região, é composto por várias tradições religiosas. Pode falar-nos um pouco sobre a religião no país? Existe uma religião de Estado? Qual é o estatuto das minorias religiosas? Quais são as relações entre as diferentes tradições religiosas?

A:

Em primeiro lugar, gostaria de vos agradecer por esta entrevista. A Constituição do Togo é muito clara quanto ao facto de se tratar de um Estado laico. É um Estado que pretende separar a religião do governo e promover uma liberdade respeitosa para que todos possam professar a fé da sua escolha. O princípio da liberdade religiosa faz parte da Constituição, que é a separação entre o Estado e a religião, por um lado, e o compromisso do Estado de proteger este princípio da liberdade religiosa, por outro. Nove em cada 10 togoleses afirmam ter uma filiação religiosa. Globalmente, existem três grandes grupos religiosos: o cristianismo, o islamismo e o animismo. Quase metade da população do Togo segue práticas religiosas associadas ao animismo. Existem muitas pequenas minorias religiosas, incluindo budistas e outras crenças. As relações entre as diferentes crenças processam-se geralmente num espírito de paz e de respeito mútuo. Não tenho conhecimento de nenhum grande conflito religioso que tenha posto em causa a paz no Togo.

Q:

Que informações sobre religião são necessárias no Togo?

A:

Precisamos de informação sobre diversos temas relacionados com a religião. Precisamos de mais do que informação geral sobre as principais confissões religiosas. Há muitos temas que precisamos de estudar e de falar sobre eles. Esta informação é necessária tanto para os académicos como para os jornalistas.

Q:

Quais são alguns dos desafios que os jornalistas enfrentam quando se trata de fazer reportagens sobre religião?

A:

A liberdade de expressão é um princípio reconhecido pela nossa Constituição. Nenhum jornalista pode ser processado por acusações relacionadas com a sua profissão. É claro que os jornalistas aqui enfrentam os mesmos tipos de desafios que os jornalistas enfrentam em todo o mundo. Nem todos partilham este valor da liberdade de expressão. Por isso, os jornalistas podem ser ameaçados quando fazem reportagens sobre determinados temas. Mas, de um modo geral, as ameaças são raras e os jornalistas raramente são objeto de qualquer ação judicial por causa das suas reportagens sobre religião. Penso que esta situação pode ser verdadeira em parte porque a religião não é o tema favorito da maioria dos jornalistas no Togo.

Q:

Na sua opinião, como é que podemos incentivar os meios de comunicação social a centrarem-se mais nas questões relacionadas com a religião?

A:

Se até agora os meios de comunicação social não têm demonstrado grande interesse pelas questões religiosas, não é porque não haja notícias para relatar. Os jornalistas togoleses sabem que as notícias são normalmente dominadas pela política, pelo que se concentram primeiro nas questões políticas e podem ignorar o impacto da religião. É necessário encorajar mais jornalistas a compreenderem que a religião está frequentemente relacionada com muitos dos outros tópicos sobre os quais fazem reportagens. Mas são necessárias muitas iniciativas para educar os jornalistas sobre estas questões. Estamos a trabalhar para ajudar a dotar os jornalistas de uma melhor compreensão da religião.

Q:

Participou recentemente numa conferência da IARJ sobre religião e jornalismo, que teve lugar em Accra, no Gana. A conferência contou com a participação de académicos e jornalistas. Considera que investigadores e jornalistas podem trabalhar em conjunto para desenvolver uma compreensão mais correcta da religião no mundo?

A:

É óbvio! Os académicos podem fornecer ferramentas de investigação e informações importantes para ajudar os jornalistas a fazerem reportagens rigorosas - e os jornalistas podem dar a conhecer melhor o trabalho dos investigadores. Podemos trabalhar como um conjunto. Decidir noticiar informação fiável exige que os jornalistas compreendam dados exactos sobre religião. É isso que os académicos podem fornecer.

Q:

É copatrocinador de um projeto muito interessante. Pode falar-nos mais sobre o projeto "África e Religião"?

A:

O nosso projeto visa fornecer informações sobre o estatuto jurídico e sociológico da religião em África. Encorajamos abordagens multidisciplinares para compreender o âmbito e o impacto da religião neste continente. Fornecemos dados extraídos de documentos oficiais: constituições, estatutos, relatórios de actividades e outras publicações das próprias instituições religiosas. Os investigadores tentam assegurar a atualidade e a fiabilidade da informação. O projeto é apoiado por estudantes de licenciatura e de pós-graduação de diferentes áreas de estudo. Um painel de peritos (professores, investigadores...) verifica os dados fornecidos sobre cada país.

Ao combinar várias competências, o projeto realça o dinamismo do contexto ambiental e cultural de cada grupo religioso no continente. Queremos também realçar a importância de mais investigação nesta área. Deste esforço resulta um maior sentido da importância de compreender a religião como parte da reportagem de eventos noticiosos.

Q:

Como é que a AIIJ pode ajudar neste esforço?

A:

É muito interessante que o IARJ esteja ciente do trabalho dos investigadores e perceba que, através do IARJ, esse trabalho pode tornar-se mais conhecido. Isso é muito importante. Há muita investigação de qualidade que é feita, mas que permanece desconhecida porque não há forma de fazer chegar essa investigação a um público mais vasto. O IARJ pode ajudar, tornando estas notícias mais acessíveis ao público.

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